Nos últimos dias vivemos uma situação complicada aqui no Rio de Janeiro. Alagamentos, deslizamentos, milhares de pessoas afetadas e mais de uma centena de mortos. Esse cenário foi desenhado em apenas 24h de chuvas torrenciais. Pelo menos é o que dizem os noticiários. No entanto, sabemos que não é bem assim. A sociedade tem uma parcela significativa de culpa sobre a situação de emergência que o nosso estado se encontra. Nosso consumo desenfreado leva a produção de lixo em larga escala e o descarte irresponsável e muitas vezes negligenciado contribui para o entupimento de bueiros, bocas de lobo, tubulações de esgoto, ou seja, os meios de escoamento das águas pluviais. Quando esse lixo cria barragens nos rios, acaba dificultando o escoamento das águas fluviais e eles trasbordam.
Nosso mundo vive dos plásticos. Tudo ao nosso redor parece ter, em algum ponto, esse material, não é mesmo? O surgimento dos materiais plásticos modificou muito o dia-a-dia do homem, através da confecção e utilização desses materiais em diversos segmentos sociais e industriais. Mas é justamente uma das maiores virtudes dos plásticos, a durabilidade, que os torna um problema muito grande quando são descartados nos lixões e aterros sanitários. A comunidade científica vem procurando soluções para minimizar as diversas formas de agressão ao meio ambiente. Uma proposta promissora, abordada no presente artigo, são os plásticos biodegradáveis que, ao contrário dos sintéticos derivados do petróleo, sofrem biodegradação com relativa facilidade, se integrando totalmente à natureza.
Os plásticos biodegradáveis, ao contrário dos sintéticos derivados do petróleo, sofrem biodegradação com relativa facilidade, se integrando totalmente à natureza. Devido a isso, institutos de pesquisas das universidades, muitas vezes ligados ao setor industrial, trabalham há alguns anos em uma linha de pesquisa que visa desenvolvê-los. Uma substância é biodegradável se os microrganismos presentes no meio ambiente forem capazes de convertê-la a substâncias mais simples, existentes naturalmente em nosso meio.
Pesquisas em torno do plástico biodegradável vêm ocorrendo em todo o mundo, nas quais se tem testado o uso de óleo de mamona, cana-de-açúcar, beterraba, ácido lático, milho e proteína de soja, entre outros. Algumas aplicações já começam a sair dos laboratórios, e entre elas podemos citar duas experiências brasileiras bem sucedidas, como o poliuretano obtido a partir do óleo de mamona e o PHB (polihidroxibutirato) obtido a partir do bagaço da cana.
Do ponto vista estritamente técnico, os plásticos biodegradáveis ainda não apresentam toda a versatilidade dos convencionais. As novas pesquisas visam justamente aprimorar as características dos novos plásticos. Do ponto de vista econômico, eles ainda são mais caros que os derivados de petróleo (de duas a três vezes), mas têm se mostrado bastante competitivos em algumas aplicações, especialmente na área médica, graças à sua biocompatibilidade (compatibilidade que ele tem com o organismo humano). Voltando novamente às espumas de poliuretano obtidas a partir do óleo de mamona, na composição química desse material existe uma cadeia de ácidos graxos cuja estrutura molecular está presente nas gorduras existentes no corpo humano; por isso mesmo, quando esse material é utilizado em implantes, as células não “enxergam” o mesmo como um corpo estranho e não o repelem.
Outra aplicação de sucesso dos plásticos biodegradáveis na área médica é como veículo para a liberação controlada de drogas em organismos, como hormônios: o recipiente plástico é degradado progressivamente e, com isso, a substância é absorvida pelo paciente no ritmo determinado pelas necessidades terapêuticas (Scientific American Brasil, 2003). O futuro dos plásticos se mistura um pouco com o próprio futuro da humanidade, e com certeza ainda teremos muitos capítulos nessa história. O que se pode dizer é que, tendo em vista o interesse despertado pelos plásticos biodegradáveis, e pressionadas por apelos populares para a redução da utilização dos plásticos convencionais, as indústrias terão que viabilizar o plástico biodegradável no mercado, e quem sabe conviveremos um pouco mais em harmonia com nosso meio ambiente.
Artigo completo: Química Nova na Escola, 22, novembro 2005